A nossa revolução
Nosso Portugal

25 Abril 2020

A nossa revolução

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Quem é português sabe o que aconteceu no dia 25 de Abril de 1974. A Revolução dos Cravos foi um evento fulcral na criação do Portugal moderno e da nação que conhecemos hoje. Na verdade, a data é tão sobejamente conhecida que o termo 'Revolução dos Cravos" não é usado com frequência. Em muitas das mesmas formas que os Americanos se referem ao 4 de Julho, os Portugueses falam do 25 de Abril.


O que aconteceu nesse dia?

A resposta curta é um golpe militar. Foi organizado por um grupo de forças armadas conhecido apenas como MFA (Movimento das Forças Armadas), que albergava um leque variado de ideias e pontos de vista para o futuro do país, mas que se uniu no objetivo de acabar com o autoritarismo do regime do Estado Novo. Em segredo, o MFA geriu simultaneamente uma parte significativa do aparelho militar do país e um plano. No dia 24 de Abril, uma canção passou na rádio por radialistas envolvidos no golpe. Foi a canção que representou Portugal na edição de 1974 do Festival Europeu da Canção: E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho. Isto serviu de sinal para o exército se preparar para o dia seguinte. No dia 25 de Abril, às 00h20, uma outra canção passou. Grândola, Vila Morena, de José Afonso, deu o sinal para que os alvos-chave civis e militares fossem tomados ao mesmo tempo. O plano resultou de forma brilhante e as autoridades de extrema-direita do regime não deram conta até ser demasiado tarde. A revolução teve lugar com quase nenhum sangue derramado. Apenas quatro pessoas foram mortas nesse dia, e essas duas canções seriam sempre lembradas em Portugal como canções de liberdade.

Apesar de o exército ter pedido à população para se manter em casa pela rádio, milhares de pessoas foram para as ruas celebrar com as tropas. Um dos pontos centrais de ajuntamento foi o mercado de flores de Lisboa e estávamos na época dos cravos. Muitos dos insurgentes puseram cravos nas armas, para simbolizar o facto de que não tinham precisado de as disparar. Essas imagens foram transmitidas pelo mundo e tornaram-se sinónimo de uma das revoluções mais pacíficas do mundo.

   

O que a espoletou?

Portugal e Espanha, tendo-se mantido neutros na Segunda Guerra Mundial, eram dos pouquíssimos países ainda sob o jugo de regimes autoritários de extrema direita nesta altura da história. O primeiro ditador fascista de Portugal, António de Oliveira Salazar, o homem-forte que havia instaurado o Estado Novo, já tinha falecido. O seu substituto, Marcello Caetano, não tinha a mesma aura de invencibilidade. As políticas socialmente conservadoras e economicamente austeras do Estado Novo estavam a tornar o regime cada vez menos popular, à medida que a Europa recuperava da grande guerra e começava o caminho para o futuro. Para além disso, o regime resistia fortemente à descolonização, arrastando Portugal para uma sangrenta, horrível e interminável série de conflitos em África para tentar manter o domínio sobre Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. A guerra tinha durado pouco mais de uma década e já havia vitimado perto de 10.000 soldados portugueses. O exército já tinha tido a sua conta, e as pessoas também.

   

O que aconteceu depois?

Como já mencionámos, o MFA era bastante diverso ideologicamente: os seus líderes incluíam desde comunistas, que queriam que Portugal entrasse na órbita da URSS, a capitalistas de mercado livre, que queriam uma democracia liberal em Portugal. Quando o regime caiu, todos os presos políticos foram libertados e os que estavam em exílio regressaram. Algumas das maiores mentes políticas do país, como Álvaro Cunhal, Mário Soares ou Francisco de Sá Carneiro entraram no discurso político e o PREC começou. O PREC (Período Revolucionário em Curso) durou dois anos, com partidos políticos a formarem-se e a extinguirem-se, muita confusão, e várias tentativas de golpes e iniciativas reacionárias.

Um ano após a revolução, a 25 de Abril de 1975, houve eleições para uma assembleia que iria escrever a constituição Portuguesa. Esse verão, conhecido como Verão Quente, foi talvez o mais tenso momento de todo o processo. Várias correntes estavam a tentar obter o poder. A constituição foi finalmente aprovada a 2 de Abril de 1976. As eleições de 25 de Abril desse ano foram as primeiras eleições livres para a Assembleia da República, marcando o princípio de um Portugal democrático e, finalmente, livre.

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